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Linfoma: o câncer do sistema linfático

O sistema linfático é composto por órgãos distribuídos por todo o corpo, os gânglios linfáticos (linfonodos), que produzem e armazenam uma das células que combatem as infecções, os linfócitos. 

Linfoma é um câncer que surge quando um linfócito se transforma em célula maligna, capaz de crescer descontroladamente e disseminar-se. A célula maligna começa a produzir, nos linfonodos, cópias idênticas (também chamadas de clones), levando ao inchaço dos gânglios, muitas vezes chamados de ínguas. Como os linfócitos percorrem todo o corpo, diz-se que o linfoma é uma doença sistêmica e pode comprometer os gânglios linfáticos de qualquer parte do corpo. Nem toda íngua representa o caso de um linfoma, já que infecções virais e bacterianas podem provocá-las. É o que acontece, por exemplo, na amigdalite, onde uma infecção das amígdalas leva ao aumento dos gânglios do pescoço (região que fornece e drena células de defesa para a amígdala).

Existem diferentes tipos de linfoma. Os linfomas são classificados em Linfoma de Hodgkin e Linfoma Não-Hodgkin. Há mais de 20 tipos diferentes de linfoma não-Hodgkin.

Estatísticas do Linfoma

Estimativa de novos casos:

  • Linfoma de Hodgkin: 2.640, sendo 1.590 homens e 1.050 mulheres (2020 – INCA).
  • Linfoma Não Hodgkin: 12.030, sendo 6.580 homens e 5.450 mulheres (2020 – INCA).

Número de mortes:

  • Linfoma de Hodgkin: 532, sendo 307 homens e 225 mulheres (2019 – Atlas de Mortalidade por Câncer – SIM).
  • Linfoma Não Hodgkin: 4.923, 2.695 sendo homens e 2.228 mulheres (2019 – Atlas de Mortalidade por Câncer – SIM)

Quadro Clínico

Alguns tipos crescem muito lentamente, outros mais rapidamente. Às vezes, inicia-se o quadro com um tipo de linfoma de crescimento lento e, mais tarde, se torna de crescimento rápido, ao que chamamos de transformação.

O primeiro sinal de linfoma é, na maior parte das vezes, um ou mais gânglios linfáticos grandes, que podem ser sentidos debaixo da pele, mas geralmente não são dolorosos. As localizações mais comuns são pescoço, virilha e axila. No entanto, como existem linfonodos em todas as partes do corpo e pode ser que o único sintoma seja a compressão de outro órgão pelo crescimento de um gânglio mais profundo, que, nestes casos, pode provocar dor e outros sintomas. Por exemplo, um linfonodo aumentado dentro da barriga, pode comprimir o ureter (que drena a urina do rim para a bexiga), podendo provocar redução do volume urinário e até insuficiência renal. A avaliação do tamanho do baço e do fígado também é importante.

Outros sintomas importantes, que inclusive são utilizados para caracterizar a extensão da doença (estadiamento) são febre, perda de peso (mais que 10% do peso corporal em 6 meses) e sudorese noturna que molha a roupa. Todos esses sintomas também podem ser causados por condições que não são linfoma. Mas se você tem esses sintomas, deve conversar com o seu médico.

Diagnóstico

O médico suspeita de linfoma através dos sintomas e de achados do exame físico. Para comprovar a doença é necessário uma biópsia do linfonodo comprometido. Na biópsia, o médico cirurgião remove parte ou todo o linfonodo doente, e o patologista (outro médico) analisa este tecido, utilizando um microscópio. Muitas vezes, é necessário complementar o exame com a chamada imuno-histoquímica, um método de análise molecular dos tecidos. É uma técnica excelente de detecção e tem a vantagem de ser capaz de mostrar, exatamente, onde uma determinada proteína está localizada no tecido examinado. A imuno-histoquímica é fundamental para a definição do tipo do linfoma.

Confirmado o diagnóstico, ou em casos onde não é possível abordar o linfonodo comprometido, cirurgicamente, o médico hematologista irá realizar a biópsia de medula óssea, que é o tecido esponjoso no centro de alguns ossos. Novamente o patologista analisa a amostra em um microscópio para verificar se ela tem indícios de infiltração pelo linfoma. Em alguns casos, pode ser necessário a análise da medula com o exame de imunofenotipagem (citometria de fluxo), onde painéis de anticorpos marcados com cores permitem a caracterização das células e a melhor classificação da doença. Tomografias, ressonâncias e PET-TC (Tomografia por emissão de pósitrons) são exames de imagem normalmente solicitados e que permitem ao médico conhecer quais são as regiões comprometidas pela doença. Outra biópsia pode ser necessária, nos casos onde outras localizações parecem não estar normais, como, por exemplo, se for encontrado algum nódulo no pulmão. Recentemente (Lugano, 2014) foi estabelecido que alguns casos de linfoma de Hodgkin e de linfoma difuso de grande células B pode-se dispensar a realização da biópsia de medula, dependendo dos achados do PET-TC.

Com os dados da biópsia de medula e dos exames de imagem, além dos dados clínicos (sintomas como febre, perda de peso e sudorese noturna), o médico (em geral um hematologista), poderá fazer o estadiamento da doença. O estadiamento é uma maneira dos médicos identificarem como o linfoma se espalhou dentro do sistema linfático ou dentro do corpo. O estadiamento engloba anamnese e exame físico, exames de sangue, biópsia de medula óssea, tomografias e PET-CT.

 Tratamento

O tratamento indicado dependerá, em parte, da fase do linfoma, e dependerá também do tipo de linfoma, da idade, e da presença ou não de outros problemas de saúde. Os hematologistas podem tratar esta doença de diferentes maneiras. Pessoas com alguns tipos específicos devem ser tratadas imediatamente. Outros tipos, com linfomas de crescimento lento e que não estiverem causando sintomas, podem, muitas vezes, não necessitar de tratamento num primeiro momento. Os seguintes tratamentos são utilizados:

– Quimioterapia: medicamentos que matam as células cancerosas, mas que podem, muitas vezes, afetar células saudáveis também. Outros tratamentos oncológicos, como anticorpos monoclonais e inibidores de tirosino quinases também podem ser utilizados.

– Radioterapia: radiação em dose específica que mata células cancerosas.

– Transplante de medula óssea: este tratamento substitui células na medula óssea que são mortas por quimioterapia ou radiação.

Após o tratamento, o paciente passará por checagens frequentes, para verificar se o linfoma retornou. Além disso, é importante ficar atento se os sintomas iniciais retornaram, e procurar logo o médico se isto estiver acontecendo. Se o linfoma retornar, um novo tratamento será instituído, incluindo quimioterapia, radioterapia ou mesmo transplante de medula.

 

Se estiver com linfoma, o que mais posso fazer?

É importante seguir as instruções de todos os seus médicos sobre visitas e exames. Também é importante falar com seu médico sobre qualquer efeito colateral ou qualquer problema, que você venha a ter durante o tratamento. Ser tratado envolve fazer escolhas, inclusive qual o tratamento e quando deve ser iniciado. Sempre deixe seus médicos e enfermeiras saberem como você se sente.

 

Texto elaborado e revisado por
Dra. Mireille Guimarães Vaz de Campos  
Médica  do corpo clínico do INGOH
Especialista em Hematologia – Hemoterapia
CRM-GO 12.406/RQE 22965.

 

Texto revisado em fevereiro de 2022.
É permitida a reprodução parcial 
ou total desta obra, desde que 
citada a fonte e que não seja para 
venda ou qualquer fim comercial.

Referências:
  • Site do INCA (Instituto Nacional do Câncer), visitado em janeiro de 2022. Páginas:
  • ZAGO MA, FALCAO RP, PASQUINI R. Tratado de Hematologia. Atheneu, 2014.
  • CHERSON BD ET AL. Recommendations for Initial Evaluation, Staging, and Response Assessment of Hodgkin and Non-Hodgkin Lymphoma: The Lugano Classification. Clin Oncol 2014; 32:3059-3067.
  • FIGUEIREDO MS, KERBAUY J, LOURENÇO DM. Hematologia – Guias de Medicina Ambulatorial e Hospitalar. UNIFESP-EPM. Manole, 2011.
  • FORONES NM ET AL. Oncologia – Guias de Medicina Ambulatorial e Hospitalar UNIFESP-EPM. Manole, 2005; capítulo 44, 321-336. (Classificação clínica)
  • HOFFBRAND AV & MOSS PAH. Fundamentos em Hematologia. 6. Ed. Porto Alegre: Artmed, 2013.
  • HOFFMAN et al, Hematology, basic principels and practice, 4. Edição
  • LONGO, DJ. Harrison’s Hematology and Oncology, 2ed. 
  • SWERDLOW SH et al. WHO classification of Tumors of Haematopoietic and Lymphoid Tissue: IARC: Lyon 2017
  • ZAGO MA, FALCAO RP, PASQUINI R. Tratado de Hematologia. Atheneu, 2014.